“Xscape” é o novo álbum de Michael Jackson, bem, pelo menos creditado ao mesmo, lançado através das gravadoras MJJ e Epic. A voz de Jackson hoje é um tesouro digital que vale milhões e seus muitos demos não finalizados agora estão nas mãos de produtores que desejam dar uma nova roupagem ao Rei do Pop e lucrar um pouco mais com o ícone. A voz, as palavras e a melodia são de Jackson nesse novo trabalho, mas a mixagem, participações especiais e outros pequenos detalhes dão uma característica um tanto estranha a esse material. Será que essa mistura do clássico com o novo funciona?
Ao contrário do primeiro álbum póstumo de Michael Jackson, o fraco “Michael” (2010), que se utilizava de músicas incompletas mais recentes do falecido ídolo, “Xscape” trabalha com músicas que chegaram a ser finalizadas em estúdio durante a produção do álbum “Invincible” de 2001. As oito músicas de “Xscape” variam de 1983 até 1999, mas o próprio músico trabalhou nelas novamente nos anos 2000. E por ser extremamente perfeccionista as descartou, assim como muitas outras, pois não achava que elas eram boas o suficiente para serem lançadas. A equipe de “Xscape” deu a si a missão de contemporizar as músicas de Michael Jackson para 2014. Para saber mais sobre os bastidores dessa compilação leia nosso artigo sobre o assunto AQUI. Agora vamos analisar o álbum em si.
As músicas vão de amor puro e cego para pensamentos sobre traição e exploração até culminar em uma desesperada tentativa de fuga. O álbum abre com a eufórica “Love Never Felt So Good”, com um piano gospel tocado pela coautora da música, Paul Anka, algo que torna essa melodia ainda mais agradável e para cima. A participação de Justin Timberlake nessa música não é intrusiva. “Slave to the Rhythm” e “Do Know Where Your Children Are” se preocupam sobre a exploração com as mulheres e as garotas. “Slave to the Rhythm” é sobre uma mulher “escravizada” pelo casamento e pelo trabalho, com um vocal dramático do Rei do Pop cantando esse triste relato. “Do You Know Where Your Children Are” foi uma preocupação para os produtores, pois ela possuía um batida bem similar do clássico “Wanna Be Startin´ Somethin´” do próprio Michael. Mesmo com as modificações ela ainda lembra um pouco a outra melodia, mas apesar dos pesares, incluindo o título provocativo, é a melhor música do álbum.
“Chicago” é um estranho pedido de desculpas a um marido traído, o keyboard da versão original foi substituído por um baixo com notas muito altas, a música não é lá essas coisas, ainda mais com essa mudança. “A Place With No Name” é levemente baseada em “A Horse With No Name” do grupo America, a batida dançante dessa música acaba lutando contra o vocal de Michael Jackson, algo que atrapalha bastante a canção. “Loving You” é uma balada feliz e confiante e é um pequeno prazer. “Blue Gangsta” é forte e com uma mixagem interessante, que deixou o vocal de Jackson ainda mais vivo do que na versão original. A transição do suingue para o pop é evidente tanto na melodia quanto na voz de Jackson que vai do falsete contido ao grito rouco e rasgado e acompanha bem a nova instrumentação, agora quase toda eletrônica que deixa em segundo plano o piano da versão demo.
“Xscape”, a música que nomeia o álbum, parece uma versão variante da paranoica e clássica “Scream, do próprio Jackson. Aliás, quase todas as músicas desse trabalho parecem versões mais fracas de clássicos do Rei do Pop. Acredito que só “Love Never Felt So Good” ,“Blue Gangsta”, “Loving You” e “Do You Know Where Your Children Are” possuem mais vitalidade, apesar de também pegarem emprestado características de outros clássicos do músico. Ou seja metade do segunda compilação póstuma é boa, é um álbum “meio-a-meio”.
Esse é um trabalho que vale muito a pena adquirir a versão Deluxe, pois essa versão vem com as faixas originais como elas haviam sido concebidas por Michael Jackson. E comparar com as originais com novas versões concebidas pelos produtores John McClain, Jerome “Jroc” Harmon, Rodney Jerkins, Stargate e Timbaland é algo que vale horas e horas de apreciação. Caramba é muita gente metendo o bedelho no trabalho de Jackson, e apesar de algumas revisões interessantes, poder escutar o trabalho como o músico gostaria não tem preço.
“Xscape” não é uma corrupção do legado artístico de Jackson. É claro que ele foi lançado apenas para tirarem mais alguns trocados da “marca” Michael Jackson, entretanto foi investido muito tempo e dedicação nessa nova compilação. Não acertaram em todas, contudo tiveram o respeito de deixar disponíveis as faixas originais, então não há do que reclamar. Para quem é fã do músico é obrigatório, sim, mesmo com as falhas. Já para os não iniciados, confira o single “Love Never Felt So Good” e veja se é a sua praia.
Nota: 3/5
Confira a colaboração de Michael Jackson e Justin Timberlake