Ninguém imaginaria que era uma homenagem a clássica hq Batman: A Piada Mortal, poderia tomar uma proporção tão gigantesca na internet, porém foi isso que aconteceu. Depois de liberada a capa alternativa de Batgirl #41 desenhada pelo brasileiro Rafael Alburquerque, uma avalanche de reclamações, acusações e até ameaças foram feitas ao artista. Os principais comentários diziam que o material tinha conotações de violência contra a mulher e apologia ao estupro. Combatendo essa radicalização, surgiu um outro grupo defendendo a capa, inclusive pedindo que ela fosse mantida. Então esses dois lados entraram em uma verdadeira guerra. Abaixo as declarações dos principais envolvidos.
Cameron Stewart, escritor do título Batgirl:
A capa de Rafael Albuquerque não nos foi apresentada em nenhum momento, ninguém da equipe criativa aprovou a arte e ela destoa completamente do clima que desenvolvemos no título da Batgirl até então.
Nós como equipe criativa da revista concordamos que a arte está em completo desacordo com a nossa proposta, então isso é apenas uma questão de manter a integridade da nossa visão criativa, não há nenhuma censura aqui. Eu sou o escritor da revista e não quero essa capa na minha revista.
Depois o desenhista Rafael Alburquerque:
Minha capa variante da Batgirl foi criada para homenagear um quadrinho que eu admiro muito e sei que é uma das favoritas de muitos fãs. A Piada Mortal faz parte do cânone da personagem e, artisticamente, não pude evitar retratar a traumática relação entre Bárbara Gordon e o Coringa.
Para mim, era uma capa assustadora que trazia algo do passado da personagem. Mas, como ficou claro para outros, toquei em um ponto fraco. Eu respeito essas opiniões e, apesar de poder-se discutir se elas são certas ou erradas, nenhuma deve ser descreditada.
Minha intenção nunca foi machucar ninguém com minha arte. Por esta razão, recomendei à DC que a capa fosse cancelada. Estou muito feliz porque eles escutaram as minhas preocupações e não a publicarão em junho, como anunciado anteriormente.
E por fim, a própria DC lançou um comunicado:
“Nós publicamos HQs sobre os maiores heróis da Terra, e sobre os vilões mais malvados. As capas alternativas do Coringa para junho são feitas em reconhecimento ao aniversário de 75 anos do personagem. Independente de os fãs gostarem da homenagem de Rafael Albuquerque à graphic novel de Alan Moore de 25 anos atrás ou acharem inconsistente com o tom da HQ da Batgirl, ameaças de violência e abusos são erradas e não têm lugar nos quadrinhos ou na sociedade. Nós apoiamos nossos talentos e, por pedido de Rafael, a DC não vai publicar a capa alternativa de Batgirl”.
O que achei curioso de todo esse lance foi a super interpretações feita por muitos pela simples capa, que sinceramente não tem nada demais. O fato do Coringa ter aleijado Bárbara Gordon e o modo que foi feito é impactante, mas mesmo o estupro é algo que Moore deixa em aberto. Também cabe lembrar que o vilão sempre foi caracterizado como um psicopata assassino, e suas ações sempre são destacadas como atos hediondos e dignos de condenação.
Entendo o lado do escritor Cameron Stewart, porque independente de todo esses questionamentos, realmente a hq atual da Batgirl tem um tom muito mais leve e voltado nitidamente para um público adolescente, então não cabe mesmo essa correlação com uma obra tão impactante e adulta como Piada Mortal. Ao mesmo tempo o ponto de vista do desenhista brasileiro Rafael Albuquerque é facilmente compreendido, porque qualquer fã do universo Batman dos quadrinhos sabe o quão memorável foi a história escrita por Alan Moore. Então relacionar o Coringa e a Batgirl a esse fato foi um simples pulo.
Meu maior receito é que tal polêmica acabe abrindo ainda mais precedentes para futuros títulos. Pois prevendo possíveis problemas semelhantes a esse, as editoras podem muito bem estabelecer uma série de medidas para evita-las, ou seja, censuras veladas que impossibilitariam obras com teor contraditório. Fico me questionando se por exemplo, hoje em dia um quadrinho semelhante a Piada Mortal teria o mesmo espaço e liberdade criativa que teve na época, ainda mais com toda essa onda de politicamente correto extremista, que não podem apenas modificações no material, mas sua total remoção, mesmo que isso signifique fazer ameaças diretas aos artistas.