Um novo 007 feito especialmente para os nostálgicos
Logo de cara é bom saber que 007 Contra Spectre (“Spectre” no original) é o filme mais caro da antologia James Bond. Ou seja, trilha soberba e passagens fantásticas são aspectos garantidos nessa nova aventura do agente secreto mais mortífero da MI6. Apesar de ser a quarta parte do reboot da franquia 007, esse longa tem mais a ver com o saudoso Diamonds Are Forever (sim, aquele de 1971, estrelando Sean Connery) do que com os recentes Cassino Royale ou Skyfall. Ah, essa produção é disparada a que mais investe no humor (nada pastelão, só para deixar claro) da fase recente da franquia, o que particularmente me agradou, mas consigo ver esse elemento afastando alguns fãs. O longa possui uma das melhores sequências de abertura de todos os 007 (Dia dos Mortos e tiroteio tem tudo haver) e o resto das cenas de ação do filme são quase todas de primeira qualidade. Em compensação seu ato final é um tanto enrolado, tendo uma overdose de reviravoltas. E o longa e um tanto longo demais, tendo uns 20 minutos a mais do que o necessário… Já deixando essas cartas na mesa, o espectador pode ter uma ideia se esse filme é uma obra para seu gosto. Caso precise de mais informações, vamos analisar um pouco mais a vigésima quarta missão do agente a serviço secreto de sua majestade.
007 Contra Spectre é um filme mais exagerado do que seus três recentes antecessores. Em Spectre, o britânico James Bond, vivido pela quarta vez pelo brucutu Daniel Craig, embarca em uma missão não autorizada em busca de respostas a partir de uma dica fornecida pela falecida M. Nisso ele reencontra com vilanesco Mr. White (Jesper Christensen), que já havia dado as caras em Cassino Royale e Quantum of Solace, apenas para constatar que ele é só um peão da organização Spectre. Em decorrência de esbarrar com a misteriosa organização, Bond descobre o “arquiteto de toda sua dor”(interpretado pelo genial Christoph Waltz), um lunático que está ligado às maiores tragédias de sua vida e o grande dirigente da rede de crimes e corrupção que é a Spectre. Como Bond pode deter essa organização criminosa, agora que ela já colocou seus tentáculos até na MI6?
Sam Mendes retorna mais uma vez à cadeira de diretor, e depois de ter dado ao público o libertador e emocionante Skyfall, ele decide fornecer uma experiência mais inspirada nos filmes da década de 60 e 70. Esse longa abandona o clima de thriller dos outros filmes 007 recentemente estrelados por Daniel Craig por uma abordagem mais simples e focada na ação contínua, explosiva e deslumbrante. Ou seja, acaba deixando a história um pouco de lado, entretanto a obra recompensa nas cenas de confronto.
Mendes não tem medo de utilizar todos os truques clássicos de Bond nessa nova película. Seja o carro super tunado, no caso um Aston Martin DB10, ou as bugigangas feitas por Q (interpretado pelo carismático e jovem Ben Whishaw, que felizmente tem mais tempo de tela nessa nova aventura). O filme nunca tem a intensidade emocional de Skyfall ou Cassino Royale, mas, só para deixar bem frisado, compensa com ação e bom humor. As localizações extravagantes, “Bond Girls” belas em qualquer idade e frases de efeito contrapesam o tempo longo demais da produção e o roteiro um tanto mirabolante para quem estava acostumado com os últimos 007.
O filme sofre muito pela obvia ausência, devido aos acontecimentos em Skyfall, da figura materna de 007, a M de Judi Dench. Dessa vez a personagem serve apenas de gatilho inicial para a história principal de Spectre. Sua falta é imensa já que a M era a única figura capaz de controlar o temperamental agente. O M atual, vivido por Ralph Fiennes (o Voldemort da franquia Harry Potter), se esforça, tem algumas boas tiradas, entretanto fica apenas na sombra da ex-M.
Já as personagens femininas realmente presentes em Spectre, a única realmente forte é a psicóloga Madeleine Swann interpretada pela francesa Léa Seydoux (a eterna Emma de Azul é a Cor Mais Quente) que injeta energia em toda cena que está presente. Madeleine Swann só perde para a Vesper Lynd de Eva Green no quesito “Bond Girl” moderna, apesar do romance meio forçado demais, até para os padrões 007, entre a personagem e o protagonista. A Moneypenny vivida por Naomie Harris tem pouca chance de brilhar e a Lucia interpretada por Monica Belluci, por incrível que pareça, tirando sua beleza, não adiciona muito ao filme.
O 007 de Daniel Craig ainda continua sendo irônico, mal-humorado, mulherengo e frio. Além de Sean Connery, Craig com certeza é quem soube melhor viver o lado narcisista de James Bond. Pena que falta um pouco do charme dos outros 007 nessa versão, contudo ele nivela essa sua falta sendo o 007 mais letal de todos. No quesito ação, nenhum outro interprete fez um melhor agente com licença para matar do que Daniel Craig. Já Franz Oberhauser, o vilão vivido pelo duas vezes vencedor do Oscar, o austríaco Christoph Waltz (Django Livre e Bastardos Inglórios), é um personagem divertido, que o ator faz de tudo para dar intensidade. No entanto, o roteiro nunca fornece motivos suficientes para suas obsessões malucas.
007 Contra Spectre tem seu auge quando explora seu tema central: Qual é o sentido de existir homens como Bond em uma era em que informação é a maior forma de poder e drones podem fazer o serviço de um espião de uma forma mais limpa e sútil? Pena que o filme muitas vezes esquece dessa abordagem. De qualquer modo, apenas no aspecto aventuresco e de ação, Spectre é praticamente impecável. Todavia se você quer um roteiro redondo e complexo, vai sair um tanto decepcionado. Esse novo 007 é uma carta de amor aos fãs das eras Sean Connery e Roger Moore do personagem, ainda mais por ter mil referências às obras dessas épocas. Não espere nada profundo, esse é um filme muito superficial, aguarde por buracos na trama e vá apenas para se divertir. Não é o melhor 007 dos últimos tempos, contudo é uma boa pedida para qualquer um que curte um bom filme de ação sem frescuras e com uma pegada das matinês de outros tempos. Evite o hype e seu martini será batido, não mexido.
Trailer de 007 Contra Spectre