O filme definitivo sobre Steve Jobs que está longe de ser a biografia absoluta.
Estreia 21 de janeiro no Brasil. Ah, o longa foi lançado em outubro de 2015 lá fora. Sim, a distribuidora no Brasil quer deixar essa produção perto da temporada do Oscar 2016.
Se você ir ao cinema esperando que essa nova cinebiografia de Steve Jobs seja um relato das inúmeras conquistas tecnológicas do gênio da Apple, bem, esse não é o filme para você. Aliás esse nem é um longa muito preocupado em ser totalmente fiel aos acontecimentos. Essa é uma obra focada principalmente em Steve Jobs, o pai. O filme é ancorado por atuações do balacobaco, bom desenvolvimento de personagens e ótimo ritmo de história. Aliás essa produção espertamente dividiu a vida da cara da Apple em três eventos principais, ao contrário do Jobs de 2013, que tentou, miseravelmente por sinal, contar a vida toda dessa temperamental figura em apenas um filme.
Steve Jobs é um filme estranho. No quesito biográfico ele pode ser considerado ruim, pois a produção dramatiza demais certas passagens e simplifica outras. Ou seja, tentar relatar as coisas como elas realmente foram está longe de ser a prioridade dessa produção. Ao invés disso, temos uma obra sobre a natureza da genialidade. Para um progresso extraordinário é preciso um sonhador cabeça dura e babaca? Que nada, nem ninguém, tire dá cabeça dele seu objetivo?
Bem, já fazem 4 anos desde a morte de Jobs, e tivemos várias tentativas de relatos da vida dessa pessoa polêmica. Normalmente demonizando ou endeusando o sujeito. Em qual versão acreditar então? O sujeito era um visionário zen-budista em busca de soluções para melhorar o mundo ou um arrogante narcisista que visava o lucro acima de tudo e subjugava seus funcionários através de humilhações e medo. Que tal um pouco da coluna A e um pouco da coluna B? Pelo menos essa é a versão que o cineasta Danny Boyle apresenta nessa nova biografia, e sinceramente, apesar dos pesares, me parece a mais próxima da realidade. Pois segundo o próprio Steve Jobs, ele era um computador sensacional (que cara humilde), com grande potencial, mas com um sistema operacional falho.
O argumento do longa é uma adaptação do brilhante e sem frescurite livro de Walter Issacson, Steve Jobs – A biografia (publicado no Brasil pela Companhia das Letras). O roteiro é focado nos personagens, não na história. E isso é a grande força da obra e especialidade do roteirista oscarizado Aaron Sorkin. Os diálogos em geral são acelerados, assim como Sorkin fez em Rede Social, mas os atores dão conta do serviço, tornando essa uma experiência bem impactante e sem dar brecha para o espectador respirar.
Como é impossível transcrever com precisão as 624 páginas da obra literária, na telona acompanhamos o lançamento do Macintosh em 1984, o desastre do NeXT em 1988 e o retorno triunfal de Jobs a Apple em 1998. Essa estrutura de pulos temporais funciona pela maior parte do filme e representa bem as encruzilhadas da carreira de Jobs. Para mostrar bem a diferença em cada momento da vida de Steve Jobs, Boyle filma cada passagem da vida desse tecnocrata com um tipo de filme (16mm, 35mm e digital respectivamente). O maior problema do roteiro é quando ele cai demais no melodrama, digno de novelas mexicanas em alguns momentos. Felizmente isso é em poucas partes da produção e o elenco de primeira consegue fazer com que até os piores diálogos não doam tanto.
Kate Winslet tem uma performance fantástica no filme, se transformando em Joanna Hoffman, uma das poucas pessoas que sabiam lidar como difícil Steve Jobs. Já o protagonista Michael Fassbender não se parece nem um pouco e nem soa como o verdadeiro Steve Jobs, mas ele faz algo bem mais interessante. A performance segura, psicótica, bipolar e egocêntrica de Fassbender é para convencer qualquer um de comprar um iPad da mão do sujeito. Se o pessoal do lobby da Sony fizer um mínimo de esforço, ele com certeza terá uma indicação ao Oscar por esse trabalho. Ah, outro que surpreende é Seth Rogen, normalmente um cara da comédia, ele consegue se virar muito bem em um papel dramático. Obviamente o ator não está no mesmo nível de Winslet e Fassbender, entretanto ele convence o público no papel do verdadeiro gênio tecnológico da Apple, Steve Wozniak.
Devido a ótima atuação, diálogos afiados e direção acima da média, Steve Jobs é um filme energético e tenso que você deve ver no cinema, mesmo se você não ia com a cara do cabra. Steve Jobs era uma pessoa difícil, um gênio, não O gênio que o marketing vendia, mas com certeza O responsável, não o único, claro, pela revolução digital que temos hoje em dia com celulares, computadores, música, etc. Vale registrar aqui que o filme bombou, não gerou bufunfa, não deu retorno, lá nos EUA. Isso é um bom lembrete de que sucesso não é sinônimo de qualidade, ou então Transformers estaria preservado no Louvre. Ou algo do tipo.
O trailer legendado desse polêmico filme