É difícil, provavelmente impossível, agradar a todo mundo e Paulo Coelho, mesmo com sua fama internacional, também não é consenso geral. O cara já vendeu mais de 150 milhões de exemplares, mas tem nego que não consegue ler uma palavra escrita do sujeito sem passar mal. Acredito que ele tem seus acertos e seus erros, mas gostando ou não da carreira de escritor dessa pessoa, é certo que Paulo Coelho possui uma puta história de vida. A cinebiografia que chega aos cinemas é chamada de “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” (putz subtítulo presunçoso e de péssimo gosto…) e tenta passar para o público um pouco da interessante e conturbada trajetória de vida do Paulo Coelho, o famoso “mago brasileiro”. O material a ser explorado é bom: filho rebelde que sai de casa brigado com o pai conservador, vai editar revistas alternativas, viveu em plenitude o sexo, drogas e rock’n’roll, fez parceira com Raul Seixas, etc. Mas e a execução? Bora conferir se vale a pena ver esse drama biográfico nos cinemas.
Focando-se na juventude e na vida adulta do escritor antes dele ser conhecido no mundo todo, o filme roteirizado por Carolina Kotscho (“2 Filhos de Francisco”) estrutura-se muito de leve no livro O Mago de Fernando Morais (ótimo livro por sinal). Contudo, a maior base do roteiro foram entrevistas diretas com o próprio Paulo Coelho. Segundo a roteirista e o diretor Daniel Augusto, o mago não interferiu em nada na produção, dando sinal verde para a equipe do longa interpretar os fatos de sua vida como bem entendessem.
O filme é dividido em três fases. No primeiro momento, vemos as brigas do pai engenheiro e rígido, Pedro (Enrique Diaz), que não quer nem ouvir falar no projeto do filho de ser escritor. Para ele escrever não é coisa de gente série e Paulo precisa de uma carreira estável. A distância entre os dois aumenta ainda mais assim que o filho entra de cabeça nas drogas e no rock. O severo pai chega até mesmo a internar Paulo em um hospital psiquiátrico. Na segunda fase vemos o mago mergulhado de vez na contracultura, onde graças a sua revista de ufologia acaba por conhecer Raul Seixas, que ironicamente era o mais careta inicialmente. O interesse comum em magia e esoterismo acaba por forjar a parceria que foi responsável por sucessos como “Gita” e “Sociedade Alternativa” na década de 70. E a última fase do longa aborda a maturidade do autor.
O problema mais grave do filme são seus saltos temporais, que dificultam a conexão do público com o protagonista. O trecho que retrata a viagem a Santiago de Compostela está sobrando na história e parece estar no longa apenas para dar sentido a pareceria Brasil-Espanha. Sim, essa é uma coprodução Brasil-Espanha. Mas voltando a falar do filme em si, tudo acontece rápido demais nessa produção, não aprofundando em nada, o que diminui muito o impacto dos acontecimentos e quase corta o elo emocional entre o expectador e a obra. A melhor parte de “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” é Raul Seixas, interpretado pelo baiano Lucci Ferreira. Lucci consegue dar vida ao músico sem ser de forma caricata e faz um trabalho convincente. Pena que o personagem aparece pouco na tela.
Júlio Andrade (Cão sem Dono, Hotel Atlântico) interpreta com confiança Paulo Coelho na fase adulta e na maturidade, essa última graças a um excelente trabalho de maquiagem dos técnicos espanhóis do filme . O irmão do ator, Ravel Andrade, é quem vive o mago quando mais jovem. Já a belíssima Paz Vega (Os Amantes Passageiros) está no filme para representar todas as mulheres que passaram pela vida de Paulo Coelho até ele se estabelecer com a atual, Cristina Oiticica. Ela faz um bom trabalho, mas nada de saltar os olhos.
Como já dito aqui, é inegável que Paulo Coelho é um cara com muitas histórias para contar. E, principalmente, há muito que se falar sobre ele. Mas essa obra fragmentada não faz muito jus ao material explorado. Claro que há belos momentos como a cena em que o pai ouve “Meu Amigo Pedro” e certas partes técnicas do longa – figurino, cabelo, maquiagem – são impecáveis. O filme poderia ter menos pressa, o que exigiria cortar alguns trechos da obra, mas nunca é possível mostrar toda uma história de vida em um longa, certo? Entretanto, mesmo com uma edição nervosa, “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” tem uma história que vale a pena ser vista. O Brasil tem que arriscar mais em produções que não sejam comédias, diversificar não faz mal para ninguém, e essa é uma narrativa com uma história emocionante e que deveria ser vista por todos, apesar dos pesares. Se tiver um tempo veja também o documentário “Raul – O Início, o Fim e o Meio” (já em dvd, blu ray e streaming), que conversa de forma legal com o filme sobre Paulo Coelho. Os dois longas juntos montam um quadro completo da maior dupla da contracultura brasileira. Não deixe de conferir essa cinebiografia de um grande autor nacional, até porque entre esse filme e a outra grande estreia, “Tartarugas Ninja”, a história do mago é um investimento muito melhor do seu tempo do que a vigésima reinvenção das tartarugas com nomes de pintores renascentistas e com hormônios a flor da pele.
Nota: (3 / 5)
Confira nossas outras críticas: Lucy, Guardiões da Galáxia, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário, Planeta dos Macacos: O Confronto, Como Treinar o Seu Dragão 2 e outro filmes.
Trailer de “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho”