O diabo está nos detalhes
David Ullman é o protagonista de “O Demonologista”, obra que vem fazendo sucesso mundo afora. Ullman é um renomado professor da Universidade de Columbia com especialização na representação do Cabrunco, do Capa-Verde, do Sete-peles, do Capiroto, Chifrudo, ou simplesmente, do Diabo, na literatura, com ênfase na obra-prima de John Milton, o clássico poema épico Paraíso Perdido. Contudo, para o Ullman o Coisa Ruim é apenas uma figura mitológica, um objeto curioso de estudo, e isso pode estar prestes a mudar. David recebe um convite de uma misteriosa mulher para testemunhar um fenômeno sobrenatural em Veneza, o que começa a criar motivos íntimos no professor para alterar sua percepção em relação a existência do Anjo Caído. Assim, as férias na Itália com sua filha adolescente Tess, que deveria ser uma pausa do seu conturbado divórcio, acabam por se tornar em uma jornada aterradora pelos recantos mais sombrios da alma. David Ullman precisa correr contra o tempo e decifrar pistas escondidas em o Paraíso Perdido, tudo para aprender a lidar com o Chifrudo e salvar sua filha da danação eterna no Inferno. Ou o professor está apenas alucinando isso tudo?
Você curte Dan Brown (O Código Da Vinci, Inferno)? Se sim vai adorar esse suspense. Caso o contrário, vai ser difícil encarar essa obra, pois mesmo ela sendo melhor escrita e tendo uma elaboração mais planejada do que os trabalhos de Brown (só para constar, eu gostei de O Código Da Vinci), aqui também há um bocado de clichês que podem afastar quem odeia soluções mirabolantes. “O Demonologista” é uma leitura rápida e simples. Apesar de se vender como um romance épico, complexo e assustador, o livro é de agilidade surpreendente, com bom humor e expõe muito bem as referências mais cultas até para quem for leigo de tudo. Então pode encarar de boa, sem precisar saber sobre Dante Alighieri ou John Milton. Claro que conhecer as referências ajudam a aproveitar melhor “O Demonologista”, mas não é um pré-requisito.
O problema do livro é a mudança repentina de tom. Em alguns momentos as coisas ficam “pesadas demais” em relação ao que estávamos acompanhando. Não há problema algum em mudar o tom da história, o problema é não haver preparação para isso e a variação ocorrer demasiadas vezes. O livro não se decide se vai ser uma jornada aventurosa ou uma expedição espiritual. Ok, talvez o autor, Andrew Pyper, esteja almejando as duas experiências, contudo no fim das contas não se explora demais nem um lado nem o outro. E para completar, o final da obra é algo que pretende ser profundo, porém soa meio bobo.
Então, o livro é ruim? Longe disso. Com um ritmo acelerado, diálogos bem escritos (principalmente entre David e Belial), toques sobrenaturais, clima cinematográfico e bons personagens, essa é uma leitura bem divertida e polida. Não é uma obra complexa, mas é bem trabalhada. Se você quer ler uma ficção que tem boas ideias e é de fácil absorção, encare “O Demonologista”. Só não espere uma obra que vai abalar as estruturas de seu mundo. Não é algo divino, mas está longe de ser uma abominação do inferno. Recomendado.
Prêmios e curiosidades do livro
“O Demonologista” ganhou o Prêmio de Melhor Romance do International Thriller Writers Award (2014). É uma obra que entrou em diversas listas de melhores livros de 2013, foi finalista do Shirley Jackson Award (2013) e do Sunburst Award (2014). O livro foi publicado em mais de uma dezena de países. “O Demonologista” chega agora aos leitores brasileiros numa luxuosa, bela e cara edição em capa dura da DarkSide Books. Para completar, o livro vai ser adaptado para os cinemas ainda esse ano pelas mãos de Robert Zemeckis, diretor de Forrest Gump e da trilogia De Volta Para o Futuro. Que tal ler a obra antes de ver o filme? Para tal confira o link abaixo.