Crítica – Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (2015, Direção: Francis Lawrence, Estrelando: Jennifer Lawrence)
Por uma Panem unida…
Duração: 2h17min
Censura: 14 anos
Estreia 18 de novembro
Suzanne Collins lançou o livro “Jogos Vorazes” no longínquo ano de 2009. O tempo passa hein? O sucesso repentino e surpreendente dessa obra sobre uma realidade despótica e com mensagens contra o consumismo deu origem a duas continuações. Essa então trilogia de livros gerou a bilionária franquia de filmes voltada ao público de adolescentes e jovens adultos. E agora chegamos ao quarto e final capítulo da saga cinematográfica. De quebra, essa foi a série que alavancou de vez a carreira da nova queridinha de Hollywood, a talentosa e carismática Jennifer Lawrence. Com a performance de Lawrence, a arqueira rebelde Katniss Everdeen se tornou uma protagonista emblemática, uma figura de atitude e marcante. Nada mal para uma personagem que nas páginas dos livros se preocupa mais com o garoto que iria ficar do que com a luta contra a Capital. Será que “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” (eitcha título complicado…) fecha com chave de ouro essa quadrilonga cinematográfica ou erra o alvo?
O penúltimo filme da saga, “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1”, foi alvo de muitas críticas por ser apenas uma preparação para o ato final. Entendo que a falta de ação tenha decepcionado alguns, contudo a crítica sagaz a publicidade, e o uso da mesma como arma de guerra, foi sensacional. Provavelmente “A Esperança – Parte 1” e “O Final” deveriam ser apenas um filme, indo contra a mania atual de Hollywood de dividir o último livro de qualquer franquia de sucesso. No entanto, a franquia Jogos Vorazes foi a que até então fez a melhor adaptação de um capítulo final, mesmo sofrendo essa divisão forçada.
Em “O Final” Katniss continua sua jornada sem nenhuma pausa de como terminou a “Parte 1”. A Tordo se encontra no distrito rebelde, o Distrito 13, se recuperando do trauma de ter sido atacada por um Peeta (Josh Hutcherson), seu companheiro de Jogos Vorazes e um interesse amoroso, que teve a mente alterada pela Capital. A jovem não tem mais dúvidas, ela decide levar a luta diretamente para a Capital, mais especificamente para matar o cruel Presidente Snow (o ótimo Donald Sutherland). Para acabar de vez com o controle de poucos sobre muitos, Katniss fará o que for necessário, nem que isso entre em conflito direto com a líder do Distrito 13, a ambiciosa Alma Coin (Julianne Moore).
A terceira parte da saga não tem nenhum “Jogo Voraz” propriamente dito. Contudo, a própria Capital se transforma numa arena mortal, com diversas armadilhas, lembrando muito os dois primeiros filmes. O filme demora um pouco para engrenar, no entanto quando pega gás, captura a atenção do espectador. As cenas de ação são impressionantes, com efeitos especiais de primeira (ainda mais se compararmos com os efeitos meia boca do primeiro filme), numa escala jamais vista nessa saga. É para ficar embasbacado com os bombardeios, os bestantes, as passagens urbanas abandonadas, o tiroteio, mas com certeza as passagens subterrâneas, que passam uma sensação de claustrofobia, são o ás na mangá do diretor Francis Lawrence.
Peeta e Katniss são os únicos personagens bem desenvolvidos nessa parte final. O resto do elenco de apoio tem seus momentos, entretanto no geral não possuem nenhum avanço em suas histórias ou personalidade. Se o personagem for novato na franquia então, vixi meu velho, ele quase nem tem tempo de piscar. Uma pena. No caso de personagens como Coin, Haymitch Abernathy (Woody Harrelson) e Effie Trinket (Elizabeth Banks) é mais triste ainda, pois todos são interpretados por grandes atores, são personagens que o público se importa e mereciam um pouco mais de destaque. No entanto, os atores dessas três figuras fazem o melhor possível com o tempo que dispõem.
Ah, felizmente o triangulo amoroso Gale (Liam “Eu sou o irmão do Thor” Hemsworth), Peeta e Katniss não ocupa tanto tempo do filme, apesar que incomoda (não tanto como nos livros) e a inclusão dessa sub história não adiciona e nem progride em nada no enredo como um todo. Como quase todo triangulo amoroso em uma história da ficção, é pura encheção de linguiça.
Jennifer Lawrence, para variar, segura bem a onda de ser o símbolo da revolta e eleva o nível da produção. A ganhadora do Oscar injeta emoção em Katniss Everdeen (que nos livros, ainda mais nessa parte, é um personagem meio sem graça) e convence o espectador de sua força e comove nos momentos de vulnerabilidade da garota. É certo dizer que Jogos Vorazes não seria o sucesso que é hoje em dia sem ter Lawrence como protagonista. Outro bônus de ver esse filme é conferir a performance final do saudoso Philip Seymour Hoffman como Plutarch Heavensbee. É um papel pequeno, mesmo assim Hoffman deixa sua marca na franquia, com ajuda de caríssimos efeitos especiais para finalizar algumas cenas que ele, por motivos óbvios, não estava presente.
Dividir “A Esperança” em duas partes foi uma decisão puramente cínica e comercial por parte do estúdio Lionsgate. Entretanto mesmo sendo algo feito principalmente pelo motivo comercial, esse é um filme que faz o possível para agradar os fãs, leva o material original a sério e tem atores de alto calibre na produção. Pô, cinco membros do elenco já foram indicados ao Oscar, três já ganharam um. É mole ou quer mais? Essa é uma franquia comercial que ousa passar uma mensagem ao espectador, questiona o status quo, fornece uma conclusão emocionante e satisfatória, sem nunca esquecer de divertir o público.
Mesmo com romance canastrão, mesmo sendo “inspirado” em “Battle Royale”, mesmo com ninguém nunca se sujando e sempre maquiado, Jogos Vorazes tem conteúdo próprio bom o suficiente para justificar sua existência e sucesso. Esse é um filme sombrio, com um final agridoce que vai agradar aos fãs e talvez conquistar alguns novos admiradores da saga. Se bem que se você não viu os outros filmes, vai ficar mais perdido do que cego em tiroteio. De qualquer, essa franquia é um dos raros casos onde os filmes são melhores que os livros. A sorte, merecidamente, está a favor dessa obra.
Ps.: O epílogo do filme é mais extenso do que o dos livros. Um extra a mais para quem quer saber sobre o futuro dos personagens. E não, Jennifer Lawrence e o diretor Francis Lawrence não são parentes.
Trailer legendado da conclusão épica de Jogos Vorazes