Isso mesmo, “melhores” com aspas e muitas ressalvas. Parece uma espécie de maldição, mas são raríssimos os jogos que são transportados para o cinema de forma digna, conseguindo retratar a obra original. Resumindo, quando for assistir qualquer filme baseado em vídeo game tenha expectativas baixas, pois provavelmente uma bomba está lhe aguardando.
Não desmereço o desafio que é transportar um jogo para o cinema, pois realmente é um trabalho complicado de realizar. Mesmo levando-se em conta certas semelhanças, videogames e cinema são mídias diferentes em diversos aspectos, com enfoques diferenciados, então fica claro que nem todo bom jogo possui capacidade de gerar um bom filme.
Algumas pérolas ao longo dos anos comprovam isso. Jogos que originalmente são obras de arte, que marcaram história e criaram um gênero acabaram se tornando abominações no cinema. Às vezes devido ao jogo possuir uma história simples, com poucos personagens e realmente cativou seus jogadores somente pelo seu gameplay viciante e competente. Sem contar que em outros casos o âmago do jogo está atrelado a um conceito completamente diferente (algumas vezes baseados em cultura japonesa), sendo impossível de ser replicado na fórmula imposta pelo cinema hollywoodiano. Exemplos temos aos montes como: Super Mario Bros, Double Dragon, Street Fighter e etc.
Mesmo outros títulos que tem um background robusto de histórias e personagens se complicam na tela grande por uma série de motivos, como: roteiros fracos, baixo orçamento, péssimos atores, adaptações equivocadas e etc. Entre esses posso citar: Resident Evil, Max Payne e até Tomb Raider (que mesmo com a presença de Angelina Jolie não conseguiu salvar).
Mesmo assim, há exceções nessa montanha de porcaria. Salvei três filmes que, apesar de estarem longe da serem excelentes, conseguem ter uma certa qualidade e remeter ao seus jogos. Só destacando, os filmes selecionados são obrigatoriamente com atores e o título surgiu primeiro nos videogames e só depois migrou para o cinema.
Mortal Kombat
O filme baseado no jogo de luta da Midway, Mortal Kombat, é considerado por muitos até hoje como o melhor filme baseado em games. O grande trunfo do filme está exatamente em manter-se próximo do jogo, sem querer adaptar tudo ao gosto comum do mercado e acabar desvirtuando a essência da obra, como foi o caso do seu rival Street Fighter. Os personagens, história, cenários e chefes foram respeitados e, mesmo quando havia a necessidade de inserir novos elementos, esses se encaixaram de forma uniforme com toda a mitologia criada no jogo.
A história é a de um torneio entre as forças do mal, lideradas por Shang Tsung do Outworld, contra os heróis, escolhidos por Raiden, que defendiam a Terra. Este torneio iria definir o destino de todo o planeta. Os combates chamaram atenção na época porque, além de bem executados, todos os personagens mantiveram seus golpes especiais semelhantes ao dos jogos. Infelizmente, MK teve uma continuação que jogou todo o trabalho no ralo, com Mortal Kombat Aniquilação. Mas ainda temos a excelente música tema do filme 😀
Prince of Persia: As Areias do Tempo
Produzido pela Disney, Prince of Persia: As Areias do Tempo, tinha a missão de substituir a lucrativa franquia Piratas do Caribre. Tendo um orçamento consideravelmente maior que outros filmes do gênero, a obra acabou entregando no máximo um filme mediano que diverte, mas é esquecível. A trama segue os conceitos básicos do primeiro jogo da série em seu reboot de mesmo nome, no qual o príncipe Dastan (nome criado para o filme) usa os poderes mágicos das areias do tempo, presentes em sua adaga, para voltar no tempo e evitar o plano de dominação do vil vizir. Ator principal pouco expressivo, história toma como base a do jogo, mas claramente não se sustenta em um filme, mesmo sendo de ação. Diverte mas não empolga.
O mais bacana do jogo eram os puzzles e as acrobacias do Prince, além da possibilidade de rebobinar o tempo, que foi algo muito criativo na época, entretanto tudo isso não gerou bagagem suficiente para um bom filme. Sem contar que a falta de carisma de Mike Newell não colaborou, assim como dizem as constantes revisões de roteiro que transformaram o filme em uma colcha de retalhos. O que realmente salva no filme é a atriz Gemma Arterton que chama atenção como a princesa Tamina.
Silent Hill
Um dos survival horrors mais marcantes de todos os tempos, Silent Hill da Konami foi levado ao cinema já duas vezes, mas a primeira em 2006 foi a mais relevante delas. Na trama, Rose (que substituiu o protagonista Harry do primeiro jogo) está desesperada com a desconhecida doença terminal de sua Sharon que, durante seus sonhos, cita constantemente a cidade de Silent Hill. Sem alternativas, Rose decide leva-la até lá e descobrir qual é o mistério que envolve sua filha. Chegando lá, sua filha desaparece e Rose, em sua procura, acaba se deparando com uma complexa rede de acontecimentos. Silent Hill guarda uma série de mistérios e acontecimentos muito maiores do que os de uma mera cidade abandonada e que estão diretamente relacionados com a existência de Sharon.
O filme resume e adapta de forma competente a história do jogo, logicamente de forma simplificada, mas, em linhas gerais, se mantém próximo do primeiro jogo da série. Entretanto, algumas dinâmicas que são aceitáveis em um jogo não funcionam tão bem no cinema como, no caso, a constante sequência de pistas que se alonga demais no desenvolvimento do filme, tornando-o cansativo em alguns momentos. Por outro lado, artisticamente o filme é soberbo, aproveitando e levando a tela com perfeição todo o visual desgastado, atormentado, nebuloso e perturbador de Silent Hill. Também vale destacar que o filme aproveita da excepcional trilha sonora do jogo.