Neste domingo Paulo Coelho deu uma entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag (saúde), onde fez graves acusações, verdadeiras por sinal, ao governo brasileiro e disse que não vai à Feira do Livro de Frankfurt. O evento literário, onde o Brasil é país convidado, se realiza da próxima quarta-feira até domingo.
Coelho citou, como motivo do boicote, sua discordância em relação à lista dos convidados para integrar a delegação oficial brasileira de autores, de responsabilidade do Ministério da Cultura, e da qual ele faz parte. “Duvido que todos sejam escritores profissionais”, afirmou.
“Dos 70 convidados, só conheço 20, nunca ouvi falar dos outros 50. São, presumivelmente, amigos dos amigos dos amigos. Um nepotismo. O que mais me aborrece: existe uma nova e excitante cena literária no Brasil. Muitos desses jovens autores não estão na lista”, acusou.
Coelho disse à publicação alemã que já tinha criticado abertamente a seleção e que “fez o melhor que pôde” para que alguns não convidados fossem incluídos na lista – sem sucesso. “Então decidi, como protesto, não ir a Frankfurt”, concluiu. Coelho citou na entrevista a ausência de Eduardo Sphor, Carolina Munhoz, Thalita Rebouças, André Vianco, Felipe Neto e Raphael Draccon.
O escritor comentou que não foi uma decisão fácil, não só devido aos laços fortes e à estima que nutre pela feira. “Há muitos anos desejava ser convidado pelo meu governo para um evento como esse”, ressaltou, reiterando que não irá a Frankfurt por não concordar com “a maneira como o Brasil apresenta sua literatura”.
Na entrevista, também não faltaram acusações contra o governo brasileiro, com o qual Coelho se diz “muito decepcionado”. “Para mim, o atual governo é um desastre. Não importa onde estou, sou sempre perguntado sobre o que está acontecendo de errado no meu país. O governo prometeu mundos e fundos e não cumpriu nada. Isso é o que está errado”, ressaltou.
Esta não é a primeira polêmica que envolve os autores brasileiros escolhidos para participar na Feira de Frankfurt. Tanto a organização do evento como o Ministério da Cultura brasileiro foram criticados em reportagem publicada em agosto pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung devido à pequena quantidade de escritores negros entre os convidados: de 70, apenas um, além de um descendente de indígenas.
Na ocasião, o presidente da feira, Jürgen Boos, e a ministra brasileira da Cultura, Marta Suplicy, afirmaram que os critérios de seleção não foram étnicos, mas sim estéticos e de produção literária. Em comentário publicado no Twitter, Paulo Coelho rebateu com sarcasmo a justificativa da ministra. “Frankfurt2013, mais palhaçada. Na minha opinião, critério foi ‘meus amigos vão’.”
Fonte: DW